Filme do cineasta feirense Daniel Sal propõe reflexão sobre o silêncio
“Menos Eu” é um filme baiano, curta-metragem de ficção, com duração de 13 minutos e que foi produzido pelo cineasta feirense Daniel Sal. Filmado na cidade de Cachoeira, o filme é uma reflexão sobre a difícil relação de uma garota com o seu pai. Alex Moreira e Paloma Cristina são os atores que protagonizam este drama familiar com excelentes atuações e entrega admirável.
A produção do filme foi iniciada no final de 2014 e as gravações concluídas em 2015, o processo de montagem e finalização durou até 2019, quando o filme ganhou o prêmio de Melhor Direção De Arte na Mostra Competitiva Baiana do Festival CineVirada. No final de 2021 “Menos Eu” ganhou trilha sonora original, feita pelo DJ Lerry, icônico produtor musical feirense e estreou ao público em abril de 2022.
A equipe que trabalhou nas gravações foi formada inteiramente por estudantes de uma mesma turma que cursava cinema na UFRB, em uma disciplina no segundo semestre da graduação, no âmbito de um exercício prático de produção.
No filme “Menos Eu” a falta de toque revela muito e as expressões são como gritos cintilantes de socorro, a necessidade de um abraço salta dos olhos e a fome de carinho apavora. O filme está disponível no Youtube, de forma gratuita e por tempo indeterminado, no canal Menino Amarelo, página da produtora responsável pela finalização do projeto. “Menos Eu”, agrega na formação da consciência e da criticidade do espectador a partir da democratização no acesso ao cinema através da web.
A interpretação se aproxima o quanto pode do silencioso, tentando com isso amplificar a sensação de distância, enquanto isso, as posturas e os longos olhares não correspondidos se impõem ao ambiente. Outro aspecto marcante é a falta quase total de contato físico entre os personagens.
REFERÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS
A relação entre estilo de atuação e mise-en-scène propõe uma impressão de dilatação do tempo. E nisto, dois filmes influenciaram muito o “Menos Eu” e são importantes referência neste trabalho, em primeiro, LADRÕES DE BICICLETA, de Vittorio De Sica (ITA, 1948). Um dos grandes filmes do neo-realismo italiano que traz aspectos documentais e não atores dentro de uma ficção, em um drama familiar que envolve um pai e um filho na busca por sobrevivência no contexto do pós-guerra. E também o filme DANÇANDO NO ESCURO, de Lars Von Trier (DIN, 2000). Um drama musical que fala sobre a resiliência de uma mulher que lida com seus problemas “fugindo” para um musical, enquanto sonha acordada.
“Menos Eu” vem da necessidade de falar sobre “comunicação violenta” e jogar luz nesse tema que muitas vezes espreita e encurrala. A palavra não dita, a reticência que ameaça findar uma relação em fracasso e deixa ambas as partes envolvidas no quase diálogo, em cacos, numa quase escuridão total de palavras.